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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Um dia de fúria

O trânsito é, sem dúvida, o melhor teste comunitário de sanidade mental. Pânico, psicose, instinto assassino, psicopatia e muito mais podem se revelar ali, no carro ao seu lado. Estudantes de Psiquiatria deviam variar entre os sanatórios e o volante em torno das 18h em ruas de fluxo intenso. A experiência pode ser traumática, eu reconheço, mas é uma proveitosa aula prática. 

No trânsito pode-se definir o perfil psicológico, a personalidade, o grau de educação, a 

No trânsito pode-se definir o perfil psicológico, a personalidade, o grau de educação, a idade, o gênero, o período do ciclo menstrual, o estado civil... Tudo. Dá pra praticamente scanear uma pessoa somente pelo seu modo de dirigir. Aliás, as pessoas deviam pensar nisso antes de sair por aí se expondo como se estivessem na poltrona de seus analistas. Um pouco de reserva não faz mal a ninguém. Roupa suja se lava em casa. 

Não há por que revelar no trânsito o quanto você é machista, limitado e retrógrado, por exemplo. Não há necessidade. São traços vergonhosos de personalidade que deveriam ser escondidos, negados, rejeitados, esquecidos. Qual o problema de ser ultrapassado por uma mulher? Precisa se desesperar e fazer qualquer loucura pra dar o troco? Para alguns homens sim. Os inseguros preferem uma doença venérea a uma ultrapassagem. Dá mais ibope.

Às vezes, uma pessoa normal nem percebe que ultrapassou um perturbado, porque vem em transe pensando na agenda do dia, nas contas a pagar, na lista do súper... 

E, de repente, se vê espremida entre o carro estacionado ao meio-fio e o que lhe ultrapassa rosnando como um tigre. Espantada, busca no olhar do motorista a certeza de que ele a está vendo, mas tudo o que encontra é um dos três tipos perfeitos pra estudo. Os que respondem com um olhar de "tá pra nascer, a mulher que vai me ultrapassar!"... Os que fingem ignorar, tipo, "você não existe". E os que a fuzilam com o olhar "nunca mais faça isso com um homem!"... É incrível, mas é real.

A insegurança pode transformar as ruas numa selva onde prevalece a lei do animal mais irracional. Todo o cuidado é pouco. Nunca se sabe o que pode acontecer no próximo sinal. Por isso, não se arrisque a demorar mais do que um segundo quando ele abrir. Adivinhe-o e acelere como se estivesse em Indianápolis no primeiro segundo verde. Lembre-se que atrás de você pode haver um psicopata prestes a surtar. Um ou uma. Preciso reconhecer que os homens não são os únicos responsáveis pelo caos em que o trânsito se transformou. 

O curioso é que, mesmo em casos idênticos, há diagnósticos diferentes para homens e mulheres. Eu explico. Não há dúvida de que um homem que bloqueia cruzamento é burro. Isso é incontestável. Se estiver tentando atravessar um cruzamento e, a sua frente, numa fila estagnada como água de poço estiver um motorista do sexo masculino, pode se compadecer. O coitado é um asno.

Não há por que revelar no trânsito o quanto você é machista, limitado e retrógrado, por exemplo. Não há necessidade. São traços vergonhosos de personalidade que deveriam ser escondidos, negados, rejeitados, esquecidos. Qual o problema de ser ultrapassado por uma mulher? Precisa se desesperar e fazer qualquer loucura pra dar o troco? Para alguns homens sim. Os inseguros preferem uma doença venérea a uma ultrapassagem. Dá mais ibope.
Às vezes, uma pessoa normal nem percebe que ultrapassou um perturbado, porque vem em transe pensando na agenda do dia, nas contas a pagar, na lista do súper... 
E, de repente, se vê espremida entre o carro estacionado ao meio-fio e o que lhe ultrapassa rosnando como um tigre. Espantada, busca no olhar do motorista a certeza de que ele a está vendo, mas tudo o que encontra é um dos três tipos perfeitos pra estudo. Os que respondem com um olhar de "tá pra nascer, a mulher que vai me ultrapassar!"... Os que fingem ignorar, tipo, "você não existe". E os que a fuzilam com o olhar "nunca mais faça isso com um homem!"... É incrível, mas é real.
A insegurança pode transformar as ruas numa selva onde prevalece a lei do animal mais irracional. Todo o cuidado é pouco. Nunca se sabe o que pode acontecer no próximo sinal. Por isso, não se arrisque a demorar mais do que um segundo quando ele abrir. Adivinhe-o e acelere como se estivesse em Indianápolis no primeiro segundo verde. Lembre-se que atrás de você pode haver um psicopata prestes a surtar. Um ou uma. Preciso reconhecer que os homens não são os únicos responsáveis pelo caos em que o trânsito se transformou. 
O curioso é que, mesmo em casos idênticos, há diagnósticos diferentes para homens e mulheres. Eu explico. Não há dúvida de que um homem que bloqueia cruzamento é burro. Isso é incontestável. Se estiver tentando atravessar um cruzamento e, a sua frente, numa fila estagnada como água de poço estiver um motorista do sexo masculino, pode se compadecer. O coitado é um asno.

 Quem mais se prestaria a ficar no meio da rua com cara de pedra no caminho, sem nem entender a indignação alheia? Não dá nem pra se aborrecer. Vai saber se a mãe do coitado não cismou com um parto de cócoras e ele já não nasceu batendo a cabeça no chão. Sequela tudo bem, é perdoável.
Mas, no caso do time feminino é diferente. Mulher é ligadíssima nos detalhes a sua volta. Se ela obstrui o trânsito, com certeza, é de propósito. Daí o caso é mais sério. A mulher que tranca um cruzamento é uma coitada, uma infeliz. Morre de medo de ser passada pra trás. Pensa que se der uma brecha vai acabar no fim da fila. É, provavelmente, uma psicótica que vê em todo o motorista o miserável que vai lhe fazer de boba.
 Conselho à doente: trate-se! É possível sim, controlar esse medo! ... Você pode!... Com os recursos de hoje em dia, tudo tem jeito.
Kamikazes das motocicletas, pedestres suicidas, ciclistas alucinados, todos têm cura. Muitas vezes, nem precisam de medicação tarja preta, basta uma dose de educação. Eu, como morro de medo de surtar no trânsito, já me adiantei em procurar ajuda. Qual o meu problema? Pânico. Sinto-o sempre que paro no sinal.
Por: Lisiani Rotta.

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